11 de setembro de 2015

A única - Crônica


  Você passou mais uma vez na minha frente. O cabelo cheio de gel, carregando sua mochila verde neon, com as calças bem abaixo do que deveriam estar, o sorriso galã no rosto, e infelizmente, de mãos dadas com ela. Ela com os cabelos longos e sedosos, o sorriso igualmente encantador, carregando sua mochila roxa neon, e infelizmente, de mãos dadas com você. Mas eu continuo aqui, escondida, vendo você de longe.

  Apesar de você ser alguns anos mais velhos, parece que temos a mesma idade. Você é um pedaço de pecado, algo que nunca vou ter, mais sempre vou querer. Eu escrevo seu nome no meu caderno, a letra pequena, como quem querendo se esconder. Igual eu faço quando estou perto de você. Pareço uma ninja, e minha missão é não deixar você me ver.

  Perco festas pensando em você. Perco amizades pensando em você. Perco momentos pensando em você. Me perco pensando em você. E por quê isso parece tão errado para mim, e tão certo para você? Você adora me ver arrastando as malas, as gaiolas com meus pássaros e meus sentimentos para embarcar no seu trem de brincadeiras. E quando eu te entreguei meu coração, não era para você machucá-lo. Era para você cuidar dele.

  Agora, sentada aqui do lado dessa janela, acariciando aquela carta falsa que você me mandou, vendo as gotas da chuva molharem a janela (e vendo as gotas dos meus olhos molharem meu vestido) eu entendo o quê eu sempre signifiquei para você. Vários '.nada'. Você sempre foi o único, e eu, sempre fui mais uma. Mais uma que você beijou ao som daquela música que você dizia ser nossa. Mais uma que você segurou a mão enquanto passeavam pelo parque. Mais uma que você apresentou ao seus pais, dizendo ser seu novo amor. Mais uma na lista de convidados. Mais uma amiga no Facebook. Mais uma.

  E sabe, querido, cansei de ser mais uma. Para alguém, quero ser a única. A única que ele beijou ao som da nossa música. A única que ele segurou a mão enquanto passeava pelo parque. A única que ele apresentou para os pais. A única na lista de convidados. A única amiga no Facebook. A única.

  Ou talvez, não precise ser a única para alguém. Posso ser a única para mim. Ler sozinha ao som da nossa música, passear sozinha no parque. Por quê preciso de você, dele, dela, ou dos outros, para me sentir a única? Você era meu único porto seguro. E agora, meu porto seguro, sou eu mesma.

  

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